sexta-feira, 8 de junho de 2012

Articuladores e ressonadores da voz - Parte 3

Não leia este artigo caso não tenha passado pelas PARTE 1 e PARTE 2 do mesmo:

As formas de produção sonora vistas no último post (escape, explosão ou vibração) associadas aos pontos de articulação isolodos ou combinados, normalmente com a vibração das pregas vocais, ou mesmo das pregas vestibulares e outras estruturas laríngeas, produzem os sons que conhecemos. Consoantes (mudas ou sonoras), vogais, ruídos, efeitos sonoros, etc.


Cada vogal ou consoante que queremos falar ou cantar possui a sua “forma” na boca, a combinação das partes (língua, mandíbula, faringe, palato mole, etc.) é responsável por transformar o som laríngeo em algo que reconhecemos culturalmente e traduzimos como fala e/ou canto. Muito comum é um cantor inexperiente associar um aumento de volume ou de nota ao abrir mais da boca, ou terminar as frases fechando o som e a boca juntos, mas ao fazer isso ele está alterando a posição dos ressonadores, modificando os formantes que geram as vogais (falaremos disso em breve), alterando o som produzido, um “A”, pode se tornar “Ô, um “I” pode se tornar “Ê” ou “É”, etc. E é importante definir se cantamos “posso” ou “poço”, “forma” de bolo ou “forma” física, e por aí vai.

Todas essas estruturas são utilizadas durante a fala, mas com muito mais intensidade durante o canto, por isso é necessário desenvolver suas capacidades motoras, ampliar sua movimentação, tônus e controle. Esse ajuste preciso dos ressonadores e articuladores pode resolver problemas vocais como nasalidade, voz entubada, dura, pouco inteligível, e também aquela voz opaca, sem energia.

Portanto, é muito importante que haja um trabalho no sentido de flexibilizar e potencializar a movimentação de todo esse mecanismo para tornar a articulação mais fácil e a produção vocal mais livre. Talvez pessoas mais extrovertidas, ou de famílias mais “barulhentas” possam ter menos dificuldade com essa parte, mas isso não significa que sejam mais talentosas, mesmo que no começo o som saia mais claro e vibrante nessas pessoas (hipótese), apenas estão em um estagio de desenvolvimento diferente. Os mais tímidos e fechados podem, com dedicação, consciência e direcionamento correto, resolver essas questões sem maiores problemas.

Um outro detalhe SUPER importante, e que merece grande atenção de professores e alunos de canto, é o treino da independência das partes do trato vocal. Cantores com pouco controle tendem a movimentar a língua quando abrem ou fecham a boca, contrair ou relaxar o palato mole quando movem os lábios, etc. e outros tipos do que chamo de "movimentação em bloco'. Essa falta de liberdade na movimentação do trato vocal pode limitar muito nossa voz, impedindo até de atingir notas mais agudas ou criar efeitos como vibratos e distorções, por conta de tensões completamente desnecessárias, ou flacidez em musculaturas que deveriam estar mantendo o tônus, mas que estão apenas acompanhando uma tentativa de "relaxar" algum outro lugar. É importante garantir que a língua só se mova quando ela precisar se mover, não quando for "levada", e o mesmo vale para faringe, laringe, maxilar, véu palatino, musculatura extrínseca da laringe (dos ombros e pescoço), etc.. A postura é fator que contribu, e muiro, para essa independência ou "prisão". 

Exercícios para trabalhar essa articulação existem há milênios. Reza a lenda que os gregos treinavam oratória com pedras na boca discursando no penhasco para o oceano, no ótimo filme “O Discurso do Rei” o próprio tem que falar com bolinhas de gude na boca para curar sua gagueira. Os trava-línguas (três tigres tristes comeram três pratos de trigo, etc.) são muito usados ainda hoje, mas existem também exercícios funcionais que vão direto ao ponto e que seu professor deve conhecer, ou mesmo um fonoaudiólogo.

Em outro texto aqui no site falo sobre a acústica da voz e como ela determina o som que produzimos através das tais formas do trato vocal (Conheça clicando AQUI), mas é importante saber que, entre outras coisas, o controle dos ressonadores amplifica o volume, a intensidade da voz. Muitos cantores tentam cantar mais forte aumentando a pressão de ar (pressionando o abdome com mais força), mesmo que inconscientemente, e isso dificulta em muito o canto, podendo causar tensões indesejáveis na laringe que podem até se transformar em lesões, além de instabilidade e perda do controle vocal. 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Articuladores e ressonadores da voz - Parte 2

Se você caiu aqui sem querer, confira a primeira parte do artigo AQUI

Os articuladores trabalham sozinhos ou separados, dependendo do som desejado. Fazemos isso tudo inconscientemente na fala e no canto, mas é interessante saber o que está acontecendo para podermos detectar possíveis falhas no mecanismo e providenciar a correção.

Veja-os trabalhando. Infelizmente o vídeo não tem audio. 
 
 

O francês François Le Huche fala em 6 pontos de articulação da voz em seu idioma, as seis “torneiras” da voz, ele considera apenas os fonemas de sua língua. É possível articular de outras formas em outras línguas, como as de origem anglo-saxã, orientais, africanas, ou mesmo em diferentes regiões do Brasil.

As “torneiras” descritas por Le Huche são:
Lábios ou lábio inferior contra o bordo inferior (a serrinha) dos dentes incisivos superiores - como quando seguramos um “V”, um “F” ou articulamos um “P”, ou “B”. Atenção para não segurar com som de “vêêêêêê”, assim você está mantendo a vogal “ê” e não a consoante “v”, o mesmo vale para todas as outras.

Dorso (corpo) da língua contra os incisivos superiores ou face posterior (costas) dos incisivos e gengiva superiores - faça um “Z” prolongado e tente perceber, ou um “S” ou fale um “T”, ou “D”.

Dorso da língua contra palato (a parte óssea, frontal) - “R” ou “K” (apenas o K, não o “Kaaaa”, assim você seguraria o “a”), ou “Ch”, ou “G”.

Pregas vocais - esse ponto de articulação produz as frequências que são combinadas com as outras articulações e ressonadores criando os sons de vogais e algumas consoantes sonorizadas como V, J, Z, M, N, etc.

Véu do palato (palato mole) contra teto da rinofaringe - usado em efeitos, como ronco ou o som que imita o Pato Donald.

Orifícios das narinas - pouco usado na comunicação, mas também produz som, tente soprar pelo nariz.

Em cada um desses estreitamentos o som pode ser produzido de 3 formas distintas: escape, explosão e vibração. O ar pode ser obstruído como em um “V” (escape), obstruído e liberado repentinamente como em um “P” (explosão) ou provocar vibração dos órgãos, como acontece num “M” ou “N”.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Articuladores e ressonadores da voz - Parte 1

Vamos falar um pouco sobre os articuladores e ressonadores da voz, é o famoso Trato Vocal.

Como escrevi nos textos sobre respiração, o ar que sai dos pulmões faz as pregas vocais vibrarem, produzindo uma frequência, um som, esse som é tratado e modificado pelos ressonadores no nosso trato vocal, sendo os principais a faringe e a boca, existe também influência das fossas nasais, e nada comprovado em relação aos seios da face (cavidades ocas no crânio). Muitos ainda acham que esses seios da face têm função de amplificação sonora, que “fazem o som girar”, e coisas do tipo, mas após inumeros estudos essa função não foi comprovada, aliás, não se sabe ao certo o porquê desses espaços no crânio, considera-se atualmente que sejam apenas lacunas deixadas pelo processo evolutivo, um ótimo lugar para infecções, como a sinusite.

Quais são e o que fazem esses ressonadores/articuladores?

Os movimentos realizados pelo maxilar inferior (mandíbula) afetam significativamente a fala e o canto, e esses podem ser de abaixamento/levantamento, pra frente/trás e para os lados. Cada um desses movimentos altera o espaço e formato da cavidade oral (boca).

Uma observação. Fazendo a interligação entre o maxilar inferior e a fossa mandibular, acima, está a articulação temporomandibular (ATM) algumas pessoas podem possuir desvios nessa articulação, o que interfere no movimento mandibular, e consequentemente na articulação na voz, podendo causar estalos ou dores ao abrir muito a boca.

A faringe está atrás das fossas nasais, boca e laringe e segue até o esôfago. É dividida em 3 partes, hipofaringe (antigamente laringofaringe, como na figura), orofaringe e rinofaringe (antigamente nasofaringe). Seu estreitamento ou alargamento altera a formação dos harmônicos na voz.

Véu do palato é o céu da boca, ele tem sua parte anterior (frete) óssea (palato duro), rígida e a posterior (o final) é flexível, onde fica a úvula, ou campainha. Essa parte flexível do véu do palato, ou palato mole, pode se erguer ou abaixar durante a fonação, como ocorre quando bocejamos, faça o teste de frente para um espelho.

Outro articulador de extrema importância para nossa voz é a língua, ela é capaz de realizar uma série de movimentos e formas diferentes, modificando o espaço na boca.

As fossas nasais são cavidades acima da cavidade bucal que se prolongam até as cavidades do nariz e abrem-se para trás dentro da rinofaringe, é utilizando esse espaço que produzimos sons como o “M” ou “N”, por exemplo.

Também altera o som os músculos faciais, principalmente os dos lábios e nariz e os dentes.

Clique AQUI para a segunda parte deste artigo.