sexta-feira, 31 de agosto de 2012

É verdade que quem faz drive danifica a voz?


Vamos falar primeiro sobre o que é drive.

Drive é aquela “rasgada” na voz, aquele som distorcido que pode lembrar uma voz rouca ou quase um latido de cachorro bravo, usado normalmente para dar maior agressividade na voz, ou mais ênfase em determinado som. 
Para quem toca guitarra, é o mesmo nome do efeito que distorce o som, deixando aquele “chiado” característico. Aliás nome para o drive é o que não falta (o termo "drive" só é utilizado no Brasil, fora você ouve raspy voice, creeky voice, distorted voice, sing with gravel, grip, etc.), mas não vou entrar nesse mérito, o importante saber é que existem vários tipos de distorção, que vão variar de acordo com as estruturas que vibrarem fazendo esse "barulho".

Confira Jorn Lande, um ótimo exemplo de drives.

Mas engana-se quem pensa que é uma técnica exclusiva do rock, heavy metal e da música pesada, o drive, chamado de desvio vocal pelos estudiosos da voz, também é muito comum no blues, jazz, etc. você encontra em gospel, pop e até mesmo na música sertaneja (vide Bruno e Marrone) ou folclórica de diversas regiões do planeta, a música erudita também utiliza o drive como recurso estético, como na ópera "Tosca" de Puccini, quando morre Scarpia.

Atualmente esse tema é estudado no mundo todo, por pesquisadores, cientistas vocais e professores de canto de vários países, como: Enrico Di Lorenzo, Per Ake Lindestad, Daniel Zangger Borch, Cathrine Sadolin, Julian McGlashan, Melissa Cross, Jamie Vendera, Mark Baxter, Brian "Hacksaw" Williams e Guilherme Pecoraro e Ariel Coelho, brasileiros, além deste que escreve, e muitos outros ao redor do mundo, já com diversos artigos científicos e alguns métodos publicados. Muito tem se descoberto sobre o assunto, mas ainda há muito o que se entender, e, respondendo a questão inicial, já se sabe que esses efeitos de distorção vocal podem ser feitos sem prejuízo para a voz se forem feitos da maneira correta, respeitando o estágio técnico e resistência de cada um.

Fisiologicamente, essa distorção é causada pela adição de mecanismos que vão trabalhar acima das pregas vocais, como as pregas vestibulares, pregas ariepiglóticas, a epiglote, cartilagens cuneiformes, palato, ou mesmo por uma vibração aperiódica (em ritmo irregular proposital) das pregas vocais. Quanto mais coisas vibrarem, mais distorcido fica o som, mais agressivo. Alguns são feito sem a utilização das pregas vocais, o que impede o som de ter melodia definida, enquanto outros mantém sua vibração, e as notas são cantadas normalmente,apenas adicionando os "ruídos", como um pedal de distorção de guitarra.

Hoje em dia podemos encontrar infinitos nomes para esses diferentes tipos de drives, o que pode confundir aquele que tenta aprender, pois vai achar um som com um nome em um método e com um diferente em outro. Infelizmente essas coisas não seguem um padrão, e dependem muito mais do marketing, da vontade de parecer inovador e de vender o peixe de cada um do que de qualquer outra coisa.

A pressão de ar pode ser maior dependendo do tipo de distorção criadoo, mas não pode ser exagerada. O que causa dano é tentar realizar esse som arranhando ou comprimindo a estrutura da laringe de forma abusiva, o famoso “na raça”,com uma grande pressão de ar, ou com a estrutura sem condicionamento e resistência suficientes, mais do que nunca, nos drives, a conciência dos ajustes musculares é importantíssima, bem como cuidados gerais de higiene vocal e noção de quanto seu corpo pode ser exigido em cada momento.
na figura: as pregas vocais (vocal fold) com o músculo vocal, ou TA (vocalis muscle), as pregas vetibulares logo acima (vestibular fold) e a epiglote lá no alto (epiglottis)

O ideal, segundo alguns pesquisadores, é alternar momentos “limpos” com momentos “rasgados” poupando o mecanismo vocal e evitando uma fadiga exagerada, pois sabemos que cantar com os músculos cansados não é inteligente, assim como um jogador de futebol, que pede para ser substituído quando sente que se houver esforço maior pode ter uma contusão desnecessária.

O importante é treinar e se preparar bem. Não tente pular etapas, não tenha pressa para desenvolver seus drives, isso sim é nocivo, pois esses efeitos precisam de um preparo físico mais elaborado, precisam de força e resistência que não surgem de uma hora para outra, e principalmente, precisam de uma capacidade de auto percepção e controle, que somente com uma técnica vocal apurada você consegue ter de fato. 
Lembre-se, você não encontra sua voz, você a desenvolve, e o drive, como em todo o resto do estudo de canto, passa pelo processo de entender como faz, se adaptar, fazer com facilidade e só então fortalecer.

Outra pergunta comum a esse respeito é: Se é preciso uma anatomia privilegiada, uma voz específica para realizar esse tipo de som? Claro que alguns cantores possuem vozes roucas ou características naturais que facilitam o trabalho, mas não, você não precisa ter "nascido para fazer drive", você precisa de um treinamento correto, consciência e paciência.

Angela Gossow, mostrando que até o drive mais "brutal" pode ser feito por qualquer um.

É uma técnica perigosa? Para quem faz errado cantar é perigoso, falar é perigoso, atravessar a rua é perigoso. O drive não é o problema, o que é feito antes dele é que causa os danos, se você canta com muita força e pressão, o drive só vai mostrar isso mais claramente. Condicione sua voz, trabalhe ela como um todo, e aí terá drive, saúde vocal e muita diversão!!!

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Dicas de Saúde Vocal - Parte 4

Termina por aqui a lista dos fatores que podem afetar a qualidade da voz. Caso tenha dúvida sobre algo que não mencionei comente que ajudo no que puder.

Falar ao telefone
Falar ao telefone é perigoso? De certa forma sim. Já percebeu que sua voz muda quando está ao telefone? Isso por que ele corta as frequências graves e agudas, modificando o timbre e dificultando a compreensão do que se fala. A tendência é de aumentar o volume da voz, normalmente gerando maior impacto na mucosa das pregas vocais. Quem não conhece pessoas que gritam quando dizem alô?
Quando estiver ao telefone lembre de manter uma postura adequada, que facilite a boa respiração, articule bem as palavras e mantenha o volume moderado. Assim não haverá risco para a voz.


Ar-Condicionado
O ar condicionado em si não é nocivo à voz, mas ele resseca o ar, e pode ressecar a garganta e agredir a mucosa das pregas vocais, o que aumenta o esforço para a produção da voz. Mas se você estiver bem hidratado não haverá problemas por causa disso.
O aparelho deve estar sempre limpo para evitar que partículas nocivas se acumulem no ar, prejudicando quem possui problemas respiratórios e alergias.
Outro fator importante sobre o ar-condicionado é o risco de choque térmico, que ocorre quando se passa de um ambiente quente para um local refrigerado em excesso ou vice-versa, situação comum em escritórios, salas de estúdio, metrô, etc. Esse choque térmico pode causar edemas e aumento de produção de muco.

Vestuário
Roupas apertadas nas regiões do pescoço e abdômen limitam o movimento dessas regiões, dificultando a respiração e a livre ação do trato vocal. Sapatos de salto alto prejudicam a postura impedindo que o corpo fique em posição ereta e relaxada.

Esportes
Natação e caminhada são muito recomendadas por ativar o corpo e melhorar a respiração. Pilates e alongamentos dão maior resistência, elasticidade, melhoram o condicionamento físico, e postura, a yoga ainda trabalha bastante a respiração e relaxamento. São boas atividades suplementares para melhorar os cuidados com o corpo, que podem acabar influindo na voz, como no caso da postura.
Exercícios que envolvam movimentos violentos com os braços como tênis, basquete, levantamento de peso, boxe, vôlei, remo, etc. centralizam a tensão muscular na região do pescoço e podem atrapalhar o canto pela tensão e enrijecimento gerados na região dos ombros e pescoço.
Exercícios de esforço muscular não devem ser associados à fala, como em aulas de aeróbica ou artes marciais pois quando fazemos exercícios a respiração se torna mais profunda e intensa, nessa situação as pregas vocais encontram-se afastadas para o livre fluxo de ar, para falarmos ou cantarmos elas devem se aproximar, provocando um esforço extra, prejudicial. Evite ao máximo conversar durante os exercícios, nessa hora você deverá se concentrar em manter-se respirando.

Alterações Hormonais
Distúrbios vocais podem ser notados em fases de alteração hormonal no corpo humano, como durante a fase de muda vocal do menino (por volta dos 13 anos) quando a estrutura vocal se altera, ganha massa e a laringe desce.
A menopausa pode engrossar a voz feminina. Homens na terceira idade têm a tendência de ter uma voz mais aguda.
No período pré-menstrual pode aparecer rouquidão, voz grossa ou cansaço vocal, consequência do inchaço das pregas vocais.
Recentes estudos sugerem que pílulas anticoncepcionais estabilizam a produção vocal por controlar os níveis hormonais da mulher (AMIR, KISHON-RABIN, 2004), mas é sabido também que testosterona afeta a voz feminina, bem como hormônio feminino afeta a masculina.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Dicas de Saúde Vocal - Parte 3

Sem dúvida, dos fatores que podem ou não influenciar a voz, o que se pode ingerir antes de cantar é um dos que geram mais perguntas.
Mas lembre-se que cada organismo responde de formas diferentes, e um copo de leite que pode deixar um cantor com pigarro pode não afetar o outro, a única forma de descobrir é fazendo o teste.

Alimentação

Nosso organismo necessita de nutrientes e água, dietas milagrosas podem afetar a quantidades deles em nosso corpo nos deixando vulneráveis, tudo o que afeta o corpo é refletido na voz.

- O ideal é consumir dois litros de água pura por dia, podemos medir a hidratação pela cor da urina, que deve ser transparente e pela viscosidade da saliva, que deve ser como água. A hidratação deve ser constante, consumindo pequenos goles durante todo o dia. Beber água deforma exagerada não tem efeito imediato sobre as pregas vocais, já que a hidratação é indireta e leva em média 2 horas para ser processada. Vai cantar? Beba água sempre, e não apenas na hora

- Goles de água durante o uso da voz limpam e hidratam o trato vocal e causam o movimento da deglutição, relaxando a laringe.

- Alimentos pesados ou muito condimentados lentificam a digestão e dificultam a movimentação livre do diafragma, essencial para a respiração, além disso, podem agravar o refluxo ou laringites.
- Chocolate, leite e derivados não são recomendados antes do uso intensivo da voz, como em aulas e apresentações, eles podem aumentar a produção do muco no trato vocal causando pigarro e afetando a ressonância, algumas pessoas têm os mesmos sintomas consumindo tipos de nozes, é preciso ficar atento. Porém, não é consenso entre especialistas que o chocolate prejudica a voz, como muito se pensava.

- Balas, pastilhas e sprays podem atenuar sensações desagradáveis, porém mascaram a dor ou esforço vocal, trazendo efeitos indesejáveis após seu efeito anestésico passar.

- A maçã é recomendada para a limpeza do trato vocal, por possuir propriedades adstringentes, ela auxilia a limpeza da boca e faringe e sua mastigação ainda relaxa a musculatura da mandíbula língua e faringe, melhorando a dicção e articulação da voz.
- Bebidas geladas podem ser nocivas pelo choque térmico, que causa uma descarga imediata de muco e em alguns casos, podem causar edema nas pregas vocais. Porém, uma linha de estudos indica que água gelada após o uso intensivo da voz pode ajudar a prevenir edemas. O importante é perceber o efeito que causa em você.

Falta de Repouso Adequado (Sono)
A produção da voz é uma função de enorme gasto energético (sim, consome calorias) e pode ocorrer a fadiga vocal após seu uso excessivo ou com muita intensidade (lembra daqueles músculos todos?). A voz sai mais fraca e baixa, com pouca modulação ar na emissão, chegando ao extremo do indivíduo parar de falar pelo esforço exigido.
Geralmente após uma noite bem dormida os sintomas da fadiga vocal desaparecem, caso persistam uma avaliação médica pode constatar lesões mais graves.
O organismo requer em média de 6 a 8 horas para recarregar as energias, uma noite mal dormida pode causar rouquidão, voz pesada e fraca pela manhã. Procure repousar adequadamente, e perceba quantas horas você precisa para se sentir descansado.
Além do sono, devemos considerar o repouso vocal, o ideal é, após o uso intensivo da voz, realizar o desaquecimento (imprescindível) e se manter em repouso vocal (sem falar) pelo mesmo tempo que sua voz foi utilizada (duas horas de repouso após um show de duas horas, 50 minutos de repouso após uma aula de 50 minutos, etc.). Nem sempre isso é possível, devemos então tentar reduzir a intensidade do uso da voz ao máximo, falando sem grande intensidade, pausadamente e com frases curtas, mantendo a articulação e exigindo pouco das pregas vocais.

Refluxo Gastresofágico
O refluxo é a passagem do suco gástrico para o esôfago em direção à boca. Podendo atingir até o nariz e banhar laringe e pregas vocais.

Clique AQUI para ver um vídeo mostrando o efeito do ácido nas pregas vocais.
Episódios ocasionais são normais, mas quando se tornam frequentes podem causar problemas como asma, lesões laríngeas, alteração no esmalte dos dentes, rinites e otites. A laringe não está preparada para a passagem do ácido e pode ficar inflamada ou irritada, causando problemas vocais.
O principal sintoma é a queimação no esôfago e azia.
Ele é favorecido por uma série de fatores: Alimentos gordurosos e condimentados, cafeína, leite e achocolatados, refrigerantes, bebidas gasosas, álcool, frituras, produtos dietéticos e cítricos.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Dicas de Saúde Vocal - Parte 2


Mais alguns fatores que podem interferir na performance e saúde da voz.

Pigarrear
Assim como a tosse seca, o pigarro é encontrado em indivíduos com problemas vocais. Pigarro e muco viscoso (saliva grossa) são sinais de má hidratação, tendo como remédio o consumo de água. Imagine a água como o óleo do motor de um carro, você sabe o que acontece quando ele acaba...
O atrito do pigarro e da tosse seca são agressões para as pregas vocais, podendo causar nódulos (calos) e outras alterações.
Quando houver a necessidade recomenda-se inspirar profundamente pelo nariz e deglutir, auxiliando o deslocamento da secreção na área vibratória das pregas vocais.

Competição Sonora, Gritar
É resposta à poluição auditiva. Em locais muito barulhentos ou com som alto, como metrô, ônibus, bares, shows, etc. temos o instinto de aumentar a intensidade vocal, o volume da voz, chegando aos gritos para podermos conversar. Tal comportamento acaba agredindo as pregas vocais, podendo causar sérios danos.
Muitos cantores acabam roucos nos dias seguintes às apresentações não por causa do canto, mas por causa das "conversas" nos bares antes e/ou depois de atuarem.
O grito pode ser algo exporádico também. Quem nunca gritou gol, reclamou, xingou, esbravejou e depois ficou rouco?

Sussurrar
O sussurro é contraditório. Foram verificadas duas formas de sussurrar: uma com muita tensão nas pregas vocais, e outra sem contato algum, infelizmente só um exame poderia dizer como cada um faz.
O sussurro com tensão aumenta o esforço para a produção da voz, pois bloqueamos a vibração das pregas vocais por meio da constrição da laringe. Se quiser falar baixo, diminua o volume da voz, ao invés de sussurrar, é mais seguro do que tentar adivinhar de qual forma estamos fazendo, certo?.

Postura Inadequada
Já falamos sobre postura, mas é um dos fatores de risco para a saúde da voz. Seus desvios devem ser evitados pois limitam e dificultam a produção vocal e respiração correta, tais como: cabeça inclinada para os lados, projetada para frente (muito, mas muito comum), para trás, tensão na face com articulações travadas, contração das sobrancelhas, pescoço com músculos saltados, peito comprimido, ombros erguidos ou para frente e bloqueio da movimentação corporal, principalmente cabeça, ombro e braços.
Uma má postura sobrecarrega regiões que deveriam estar livres, obrigando-as a auxiliarem na sustentação do corpo desalinhado, como pescoço e ombros, que estão diretamente ligados à musculatura da laringe, dificultando seu trabalho de produção vocal.

Alergias
Alergias nas vias respiratórias, como bronquite, asma, rinite, laringite, etc. podem causar edemas (inchaços) nas mucosas respiratórias, dificultando sua livre ação e a presença constante de pigarro pode levar a uma irritação direta da laringe.
Nos palcos, principalmente os mais antigos, com suas cortinas, carpetes, materiais cenográficos, madeiras cheias de umidade, poeira, fumaça e demais ornamentos, as chances de uma crise alérgica são enormes.
Pessoas com disposição alérgica devem evitar o contato com os agentes alérgenos e seguir as orientações médicas, reduzindo a frequência de suas ocorrências.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Dicas de Saúde Vocal - Parte 1

Já comentei aqui no blog, e não custa repetir, devemos cuidar da nossa voz, é nosso instrumento de trabalho, não apenas para cantores, mas para atores, locutores, vendedores, telefonistas, advogados, professores, políticos, médicos, recepcionistas, clérigos, etc. e nosso maior meio de comunicação e expressão.

O livro Higiene Vocal: Cuidando da Voz, de Mara Behlau e Paulo Pontes, traz dicas importantes do que faz mal para a voz, e complemento as informações com material publicado pelo Dr. Robert Thayer Sataloff e preciosas informações do fonoaudiólogo Felipe Moreti durante especialização em voz no CEV - Centro de Estudos da Voz.

Saúde Vocal e Fatores de Risco

Diferentes substâncias, situações e comportamentos causam diferentes reações em quantidade ou qualidade nas pessoas de acordo com seus organismos, genética, metabolismo, resistência, predisposição, etc.
Os itens abaixo dependem da reação individual de cada pessoa, alguns são mais afetados, outros são menos, e tem aqueles que não são afetados por determinados fatores, encontre seus limites para manter a melhor e mais saudável produção vocal.

Falta de treino e conhecimento.

Usar a voz, por si só é um fator de risco. Se você usa a voz pode danificá-la. Se você usa a voz com bastante frequência pode danificá-la mais ainda. Se usa com muito volume ou intensidade o tempo todo, então, é aí que o perigo mora.

Não se deve falar ou cantar? Nada disso. Não devemos levar a voz aos extremos e utilizar efeitos, agudos, graves, etc? Longe disso, fronteiras existem para serem cruzadas, mas com paciência. Devemos saber nossos limites atuais e trabalhar para aumentá-los, só assim teremos uma longevidade vocal maior.

Para reduzir ou evitar os danos existe a técnica vocal e os cuidados com a saúde vocal.
Quanto mais dos dois você tiver, menor o risco. Mas lembre-se, ele existirá sempre, pois um cantor profissional, um ator, locutor, etc. são como atletas de alto nível, eles usam a voz o tempo todo com grande exigência, e devem continuar fazendo, mas mesmo os esportistas mais bem treinados e cuidadosos estão sujeitos à lesões e ao cansaço.

Uma coisa importante que aprendi com o convívio com profissionais da área médica é que muita gente muito bem preparada pode ter problemas vocais, simplesmente pelo excesso de uso. Coisa muito comum se pensarmos em grandes turnês, ou rotinas muito uso vocal. Estranho é se cansarem uma música, um show. Se isso acontece algo está sendo feito errado. 
Mais cuidado, técnica e auto conhecimento significam menor risco, tenha-os sempre ao seu lado. Preguiça e acomodação são os pais de todos os riscos.
 
Fumo
O fumo é grande responsável por problemas vocais. Quando se traga a fumaça, o ar quente agride todo o aparelho respiratório e as pregas vocais, podendo causar irritação, pigarro, edemas, tosse, aumento da secreção e infecções. Além de desencadear cânceres como o de laringe e pulmões.

Álcool
As bebidas alcoólicas, principalmente destiladas, causam irritação no aparelho fonador semelhante a do cigarro e reduz as respostas de defesa do organismo, tornando-o mais frágil e suscetível a problemas.
O álcool faz o indivíduo se sentir mais solto e provoca uma leve anestesia na faringe, o que faz algumas pessoas acharem que beber é bom para a voz, fazendo com que elas causem danos às pregas vocais que serão percebidos quando o efeito da bebida passar.
Portanto, muito cuidado com aquele “conhaque para aquecer a voz”.

Drogas
O uso de drogas inalatórias ou injetáveis tem ação direta sobre a laringe e a voz.
A maconha tem os efeitos do fumo em relação à temperatura, com o agravante de não ter filtro, que serve também para resfriar a fumaça. Além disso, as toxinas liberadas pelo papel também são extremamente nocivas.
A cocaína lesa diretamente a mucosa de qualquer região do trato vocal causando irritação e vasoconstrição, altera o controle e percepção sensorial e causa úlceras na mucosa das pregas vocais, além da perfuração do septo nasal.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Os registros vocais - Parte 4

Falsete, o registro elevado

O termo “falsetto” descreve um tipo específico de som, bastante suave e "infantilizado". A leveza desse som é causada pelas pregas vocais se tocando levemente, o TA (músculo da prega vocal) repousa quase totalmente e o som é controlado pelo CT. É uma produção que tem pouco contato na borda das pregas vocais, que ficam bastante esticadas e vibrando quase que paralelamente.

Aqui cabe um comentário. Muitos dizem, talvez de forma didática, que no falsete o TA desliga e no fry o CT desliga. Atenção!, músculo não têm tomada e não desliga, a menos que sofra uma paralisia. Quando ouvir frases do tipo, entenda como "o músculo fica em atividade muito baixa", e jamais, "para de funcionar".

Voltando, sua característica é o alcance dos agudos além do registro modal e é normalmente leve e soproso em vozes não trabalhadas.

Trabalhar falsete é de extrema importância para desenvolver os demais registros e é muito usado em inúmeros estilos musicais. Quando bem trabalhado se torna mais uma arma do bom cantor.

Polêmicas acerca do falsete:
O termo surgiu pois, na idade média, as mulheres (geralmente) não podiam cantar nas igrejas e os compositores utilizavam crianças, ou mesmo adultos (contra tenores, castratti, etc.) que falseavam a voz feminina, imitando-as. Muitos interpretam o falsete como sendo uma voz falsa, alguns dizem que o cantor em falsete está usando uma voz que não é a dele, o que, pela descrição acima não se sustenta.
Algumas pessoas vinculam o nome falsete às falsas pregas vocais, mas não há qualquer relação. O falsete é produzido nas pregas vocais, e não é nem mais nem menos que os outros registros, apenas um outro tipo de comportamento muscular.
Todos podem produzi-lo, homens e mulheres, pois trata-se de um mecanismo fisiológico, e não estético, bastando apenas treino e direcionamento correto para atingi-lo.

Por muito tempo se acreditou que falsete feminino não existia, e isso está certo e está errado (?). Se você pensar no termo "falsete", ele vem de falsa voz feminina, ou seja, homens imitando mulheres, então, mulheres não precisam imitar ninguém e o som sai naturalmente, não tem falsete, certo? Não é bem assim. Pela configuração fisiológica a mulher faz o mesmo que os homens, a diferença é que nos homens a diferença no som desse registro é mais perceptível. Então, mulher faz falsete, mas essa nomenclatura fica estranha, daí a necessidade de se usar outro termo para esclarecer, como registro elevado.

Exemplo de falsete você ouve no refrão dessa música ao lado:

Existe ainda um registro (que na verdade, podem ser dois) acima do falsete, que você ouve aos montes nos trabalhos da cantora Mariah Carey, ou David Lee Roth do Van Halen, Eric Martin do Mr. Big, etc. chamado de Registro Flauta (o Registro Asssobio poderia ser uma variação do Flauta), mas ainda há muito a ser estudado sobre ele. É sabido que emite um som extremamente agudo e cristalino e com pouca pressão aérea com as pregas vocais bastante tensionadas, e deixando apenas parte de seu cumprimento vibrando, e muitas vezes elas nem vibram (daí a diferenciação entre Flauta e Assobio), apenas param e recebem o ar que passa sibilando no seu vão.


E chegamos ao fim dos textos sobre os registros vocais, laringe e funcionamento das pregas vocais na visão tradicional. E quais conclusões podemos tirar disso tudo?

Certamente a ação desses músculos todos é responsável pelo tipo de som que produzimos, não tendo qualquer relação com onde ele ressoa, ou onde sentimos vibrar, como se pensou por muito tempo. As sensações de vibração, ou de som mais aqui, mais ali, etc. aparecem com o uso dos ressonadores e da articulação, que complementam os registros, criando estéticas diferentes, mas ressonância é tema de outro post aqui no blog.

Conhecer a ação muscular dentro da laringe interessa como para quem quer começar a cantar, ou desenvolver sua técnica vocal?

Gosto sempre de comparar o canto ao esporte, onde o atleta precisa desenvolver seu corpo, fortalecê-lo, deixa-lo maleável e treinar seus movimentos para dominar sua arte. No canto é a mesma coisa. Sendo a base do controle de voz o trabalho muscular, é imprescindível que haja um treinamento focado no desenvolvimento desses músculos, seja CT, TA, musculatura intercostal, diafragma, língua, lábios, etc., e do resto do corpo todo. E, para isso, precisamos conhecer esse corpo, saber o que precisa ser feito para deixá-lo apto ao canto, pois não há truques, não há mágica, nem receita do bolo, apenas um instrumento musical que deve ser preparado para o uso, como qualquer outro.

A magia está no resultado produzido por um canto bem feito, utilizando emoção e expondo sentimentos, e não no processo de produção dele, mas dominá-lo te dará ferramentas mais versáteis para ter a voz expressiva que todos sonham.

A forma de classificar a voz em peito, cabeça, mix e falsete está sendo substituida por formas mais completas que vêm surgindo com os avanços da pesquisas em voz, já que essa vem de uma tradição de canto com uma estética específica e que não explica todos os sons e possibilidades vocais que temos.
Conheça visões mais atuais do controle da voz e explicações mais aprofundadas do mecanismo das pregas vocais CLICANDO AQUI.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Os registros vocais - Parte 3

Ainda no Registro Modal, temos uma outra subdivisão:

 - A voz de cabeça (modal com predomínio de CT)

O termo "registro de cabeça", assim como ressonância na cabeça, voz de cabeça, mecanismo ou voz leve e registro alto são todos referentes ao som produzido pela ação do músculo Cricotireoideo (CT) sobre as pregas vocais, alongando e afinando-as para subir a nota aumentando o comprimento e tensão, através disso fazendo com que apenas os limites superiores das pregas se encontrem. Isso pode ser chamado de comportamento do CT.

Observe no gráfico do Dr. Donnald Miller como o corpo da prega vocal em contato é maior no registro mais pesado e menos no registro mais leve

A condição natural do registro de cabeça é que ele é fraco, principalmente nas notas baixas (graves), normalmente é soproso em quem não está habituado a produzi-lo, na maioria dos casos, os homens.

Utiliza-se o músculo CT, que estica e afina as pregas vocais para atingir as frequências mais agudas e gera um quociente de abertura maior por ciclo de vibração, as pregas vocais ficam abertas mais tempo durante a vibração.

É a qualidade mais leve e suave da voz, ligada à voz feminina, infantil e ao falsete, a voz de cabeça está geralmente associada à doçura, pureza, intimidade, leveza, tranquilidade, suavidade, etc.

 - Voz mist(modal com equilíbrio entre TA e CT)

O mix é conhecido como sendo um registro entre peito e cabeça, mas ele é mais um ajuste da mistura dos comportamentos dos músculos TA e CT, podendo ser "Misto-Peito", com prioridade do músculo TA sobre CT ou "Misto-Cabeça", priorizando a utilização do CT sobre TA.
Como uma balança podemos pensar que eles se mesclam 55% para um lado, 45% para o outro, 27% / 73%, ou 34% / 66%, e por aí vai, o importante é saber que usando mais TA o som fica mais potente, usando menos, fica mais suave.

Controlar esse balanceamento de registro é o que nos permite remover a “quebra” no som, mencionada anteriormente, e oferece ao cantor a possibilidade de fazer notas agudas com o vigor das notas mais baixas ou notas graves com a sutileza das mais agudas.

O mix acontece quando TA e CT estão fortes o suficientes para conseguirem interagir de maneira completa. Portanto, para desenvolvermos tal registro é necessário trabalhar os demais, fortalecendo-os e condicionando-os. Podemos pensar no registro modal como um grande mix, alternando seu balanço e escolhendo o som que se quer, por essa razão está se verificando que não existem subregistros, mas apenas um grande mecanismo de interação entre a musculatura da laringe.

Esse é o trabalho do treino de técnica vocal, transformar músculos em arte.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Os registros vocais - Parte 2

Hora de falar sobre os registros vocais tradicionais especificamente. São aqueles três, basal, modal e elevado, lembra? Vamos ao primeiro:

Registro Basal

É um som pouco usado no canto, mas visto com frequência na fala, principalmente nos filmes americanos. É o som que fazemos quando imitamos um zumbi, Frankenstein, etc. Nele o músculo CT (lembre-se, o que estica as pregas vocais e deixa o som mais leve e agudo) está quase totalmente relaxado, apenas com ação do TA (músculo vocal, que encurta e aproxima as pregas vocais) e o som é grave (de baixíssima frequência) e se assemelha ao estouro de bolhas ou óleo fritando, daí o apelido vocal fry. Esse tipo de som, quando feito em notas mais agudas é chamado de voz crepitante, mais famoso como Creaky Voice (daí a origem da distorção vocal que alguns chamam de drive Creaky Voice).

Registro Modal

É aqui que as coisas acontecem na maior parte do tempo, onde CT e TA (claro que você lembra deles) interagem de forma intensa e criam a mais variada gama de sons e estilos. O modal é subdividido historicamente em registros peito, cabeça e misto, mas não confundam registros com ressonância, vibração do som, energia cósmica, nada disso, ok? E lembrem-se, essa subdivisão é utilizada de maneira pedagógica.

 - A voz de peito (modal com predomínio de TA)

O termo registro de peito, e também, voz de peito, mecanismo ou voz pesada e registro baixo referem-se ao som produzido pelo corpo principal da prega, que traz toda sua profundidade aproximando-a para a vibração. É o comportamento do TA.
Predomina o uso do músculo Tireoaritenóideo – TA, mais forte, que encurta e engrossa as pregas vocais e aumenta a amplitude da onda mucosa e o movimento das bordas das mesmas (assista o video postado AQUI e repare na mudança da onda no começo, mais grave, para o final, mais agudo). Tem maior quociente de fechamento por ciclo de vibração das pregas vocais, ou seja, as pregas ficam mais tempo fechadas que abertas durante a vibração.

Na visão de cima da laringe as setas mostram o movimento dos músculos vocais, de encurtamento.
Curiosidade: repare como podemos ver uma divisão no músculo TA, a parte mais próxima do centro, é o TA interno, ou tireovocal, a parte mais longe do centro é o TA externo, ou tireomuscular. o TA interno é responsável por esse encurtamento da prega vocal, deixando o som mais grave, enquanto o TA externo ajuda a fechar o espaço entre as pregas, aumentando a intensidade e dando mais "força" ao som.

A "voz de peito" tem como característica um som mais forte, encorpado e consistente, muitos a chamam de “voz plena” em detrimento dos outros registros.
Sua região natural é a mais grave, mas como é uma voz mais forte que a de cabeça muitos estilos a solicitam em regiões mais agudas, como em musicais, no rock, ou mesmo em cantores líricos.

Sabe aquela voz que, normalmente, usamos para dar bronca ou chamar a atenção de alguém? Eis o registro baixo, ou voz de peito, subdivisão do registro modal.
Emite um som normalmente associado ao poder, dramaticidade, firmeza, paixão, força. Ligado à voz masculina.

No próximo, a voz de cabeça e a junção dos subregistros modais.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Os registros vocais - Parte 1

“A chave para cantar bem é entender a função dos registros” - Jeannette LoVetri

Aqui é a casa da discórdia na ciência e pedagogia vocal. Ao longo da história, os registros foram descritos de inúmeras formas e em diversas quantidades, aqui tentarei tratar o tema da forma mais simples possível e tentando ligar termos conhecidos pela maioria.

Quando vamos da nossa nota mais grave até a mais aguda notamos mudanças no timbre, no tipo de som emitido, a voz passa de um som “de porta rangendo”, chega a uma massa sonora forte e vigorosa e vai para uma mais suave e por vezes soprosa ou “fininha” como de criança, e essa é a visão tradicional da nossa voz.
Essas variações ocorrem porque nossa laringe está produzindo o som de formas diferentes. Cada uma dessas formas dependem de quais músculos estão sendo mais ou menos acionados, e o que essas diferenças causam no corpo das pregas vocais e na forma como elas vibram. Costuma-se chamar essas configurações musculares de registros vocais, mas podemos encontrar com as mais diversas nomenclaturas, como vozes, arranjos musculares, mecanismos laríngeos, ajustes, esquemas, etc.. Cada um desses registros tem suas determinadas características, que serão vistas a seguir.

Nessa mesma situação, do grave ao agudo, podemos observar “quebras” no som, algo como uma falha entre as regiões, isso acontece quando não há uma “passagem” de registro sutil. A voz reflete essa “troca brusca” e soa como uma engasgada durante a frase cantada.

Anteriormente vimos que a parte intrínseca (aquela que está dentro) da laringe é formada por músculos que esticam, encurtam, estreitam, alargam, etc. as pregas vocais. Quando o ar passa pela laringe as pregas vocais podem estar abertas (na respiração) ou podem obstruir a passagem do ar, fechando o canal, como em um apito.
Esq. Pregas vocais durante a fonação - Dir. Pregas vocais durante a respiração
E quais são esses registros, ou mecanismos vocais?

Muitas coisas ainda são um mistério, muitas estão sendo estudadas neste exato momento e poderão, ou não, sofrer alterações, mas a ciência percebia três registros básicos: basal (vocal fry), modal e elevado, além de um último, o assobio, ou flauta, que muitos consideram como sub registro do elevado.
Registros chamados de peito, cabeça e misto são subdivisões do registro modal, é nele que acontece a maior parte do canto e fala. Prefiro outras denominações, as usarei por serem bastante difundidas, e já explico o por que. Pesquisas recentes já desconsideram os subregistros, e pedem a troca da palavra registro para mecanismo laríngeo, pois registro está muito ligado ao tipo de som percebido, e mecanismo laríngeo é mais fácil de ser compreendido como ajustes musculares. 

As pregas vocais (músculo revestido por mucosa) são responsáveis pela nota entoada e pelo tipo de registro emitido. Quando elas estão vibrando por todo o comprimento e profundidade do músculo vocal (TA), você está com som dominantemente de “peito” (esqueça ressonância aqui, apesar desse termo ser utilizado por muitos como voz que ressoa no peito), se você contrai os músculos CT, inclinando a cartilagem cricóidea para trás e para baixo principalmente, e também a cartilagem tireóidea para frente e para baixo (movimento de báscula), você está alongando e afinando as pregas vocais e as colocando para vibrar apenas em suas extremidades superiores, o que da ao som uma qualidade mais leve, muitas vezes chamado de registro "cabeça", ou se a ação de TA for mais fraca, iremos para o registro elevado, ou falsete.
Ou seja, acionando mais o músculo vocal, ou TA, a prega vocal tem uma área de vibração mais grossa, com mais massa, acionando menos esse músculo, o CT vai sobressair e a massa e a espessura da área de vibração da prega vocal serão menores.

Aqui é importante deixar claro que não existe voz isolada de TA, o CT está sempre ativo, e nos graves o TA entra em ação em conjunto, encurtando as pregas vocais, como visto em trabalhos de Hirano da década de 80.

Muitas pessoas atribuem o nome dos registros ao local onde o som vibra, mas ressonância tem a ver com o resultado de como você manipula o som feito, e não onde ele é gerado. Na história da voz e do canto (partes 1 2 3 4 e conclusão, recomendo a leitura) entendemos por que essa confusão, mas hoje em dia não podemos aceitar mais tal associação, afinal de contas, a voz não sai pelo meio da testa, não sai por entre os olhos, não sai do peito como o raio dos Ursinhos Carinhosos ou coisa do tipo, ela sai sempre pela boca e/ou nariz. Perdi a conta dos alunos que estudavam canto dessa forma mas se sentiam frustrados por não entender ou ter a sensação de voz que vibra no peito, no topo da cabeça, na testa, na nuca, etc.
Repare que o músculo CT se contrai, aproximando as cartilagens e esticando o ligamento vocal.
O som surge nas pregas vocais, ele começa a vibrar na laringe independente de onde você sinta ressoar, na cabeça, no peito, no pescoço, no joelho, etc..

É a interação entre os músculos da laringe que vai determinar se o som é suave, bruto, intenso, soproso, etc.. O resto das mudanças de timbre vão aparecer com o uso dos ressonadores e articuladores no trato vocal, que já comentamos aqui no blog.

Na próxima parte vamos ver como funcionam e o que faz cada um desses registros vocais. 

sábado, 4 de agosto de 2012

Cordas vocais ou pregas vocais?

A prega vocal, chamada de corda, é nada mais que uma dobra muscular revestida por uma mucosa (algo como a pela que recobre o interior dos lábios) flexível.
 
imagine que a parte da frente do seu pescoço está
aberta, é assim que você verá uma das pregas vocais, a outra ficaria espelhada à direta e suas superfícies se tocariam para produzir o som
Na imagem ao lado vemos a parte muscular da prega vocal (o músculo tireoaritenóideo interno, ou TA, também chamado de músculo vocal) recoberta pela mucosa (epitélio e a lâmina própria, que se divide em 3 camadas, superficial, intermediária e profunda).

Essa mucosa vibra quando o ar passa vindo dos pulmões, e é a vibração que cria a frequência da nota musical ou do som da fala. No vídeo abaixo, vemos uma prega vocal, e as ondas que o sopro causa, filmada em alta velocidade. Uma das novas tecnologias que possibilitam o estudo cada vez mais detalhado do nosso instrumento. Aqui elas estão indo de um som grave a um som agudo, repare como a vibração mais forte e com bastante movimento da onda se torna algo mais suave e com contato menos intenso. Falaremos sobre isso nos registros vocais.

 
 
A vibração pode chegar a milhares de ciclos de abertura e fechamento por segundo, e quanto mais rápido vibra, mais agudo o som é ouvido. Essa frequência é medida em Hertz. (Mais sobre o assunto nos textos sobre acústica no canto clicando na PARTE 1 e na PARTE 2.)

Você já deve ter visto um diapasão, utilizado por maestros, instrumentistas, cantores, etc.
É um instrumento que vibra sempre na mesma frequência, geralmente 440 hertz, o que foi convencionado chamar de nota Lá, ou seja, um Lá (nesta oitava) é uma onda acústica que vibra 440 vezes por segundo, e, se cantarmos essa nota, nossas pregas vocais estarão abrindo e fechando 440 vezes por segundo. É muito rápido, ainda mais se pensarmos em notas mais agudas que chegam a milhares de hertz.

O que causa essa variação de frequências é o cumprimento e a espessura da prega vocal na hora em que o ar é enviado. Nos homens, as pregas vocais costumam ser maiores e mais grossas que nas mulheres, nas crianças são ainda menores e mais finas, e meninos e meninas tem tamanho similar, o que começa a mudar na puberdade.

Por muito tempo foi chamada de corda vocal, mas estudos mostraram que não se tratam de cordas, como de um violão ou guitarra (veja o vídeo acima e me diga se parecem cordas), mas de dobras, ou pregas. Porém pode-se notar uma semelhança, quando esticamos uma corda, ou usamos uma corda mais fina, em um violão, a nota soa mais aguda do que quando usamos uma corda mais grossa ou mais frouxa, e o mesmo ocorre com as pregas vocais, que, quando esticadas e afinadas produzem sons mais agudos do que quando engrossadas e afrouxadas. E essa é função dos registros vocais, que serão estudados a seguir.

Conheça clicando AQUI o que esses músculos fazem pela sua voz