quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Vocalista precisa “tirar música”!!


Essa foi a conclusão de um aluno meu que é originalmente guitarrista.
Pra quem não conhece o termo, “tirar música” é quando você tem que estudar uma música pra tocar/cantar.

Guitarristas estão acostumados a estudar as músicas nos mínimos detalhes, escutar os acordes, ouvir solos nota por nota, treinar os fraseados e escolher a melhor forma de execução, selecionando em seu leque de opções técnicas a que mais se adapta ao que a música pede.
Demais instrumentistas também estão sempre atentos aos timbres, formas de tocar e o famoso “feeling”, aquela interpretação final que dá sentimento à música. Até mesmo adquirem novas peças, pedais, cordas, peles, pratos e instrumentos para se adequarem mais ao som desejado.

Mas e o vocalista? É só ler a letra e cantar no ritmo. Ao menos é isso que a maioria dos músicos sempre disseram nos ensaios e reuniões de bandas que já presenciei, e pior, muitos responsáveis pelos microfones pensam o mesmo.
Por isso a importância de um aluno que toca guitarra entender que quando um cantor tem uma música pra “tirar”, ele precisa estudar também, e muito.

Mas estudar o que? Lembra da postagem de ontem sobre os fatores que determinam o “bom canto”?
É preciso estudar onde, quando e como vai respirar, como vai usar o apoio respiratório de forma mais eficaz. A articulação das frases e sílabas é a mais adequada? Talvez existam algumas consoantes que estejam atrapalhando o resultado final (muito comum). E os registros vocais, qual usar? É importante saber onde o som pede mais TA, onde pede mais CT, onde pede o trabalho dos dois em conjunto, etc. E a postura durante o canto, está legal? Tem alguma parte se intrometendo e atrapalhando o bom fluxo da voz? Com os problemas identificados e as estratégias de solução traçadas é só treinar, fazer com que seu corpo memorize esses dados todos para na hora não ter que ficar pensando na técnica e deixar o "feeling" aparecer.

Uma estratégia muito interessante é isolar as dificuldades. Se o problema é respiração, vamos treinar só isso, se é articulação, se é agudo, se é grave, pode estar com força demais, pode estar com força de menos. Isole o problema do resto.
Esqueça letra, esqueça até a melodia as vezes. Tirar uma música é um trabalho minucioso e complexo (quando a música exige, algumas não são grandes desafios) e deve ser feito com dedicação,  persistência, atenção e muita, muita sabedoria, pra entender qual o problema e como contorná-lo.

Uma boa dica é não ficar cantando a música inteira várias e várias vezes pra tentar resolver uma frase que não está legal. Se você identificou o problema em uma frase, uma estrofe, mire seu tempo nesse trecho e depois some com outro trecho, e outro até completar a música. Dificuldades resolvidas? Então é hora de passar a música completa e ver se tudo o que foi treinado separado se encaixa, fazer os ajustes finais e aí, é só curtir.

Imprimir a letra e ouvir a música no carro a caminho de um ensaio ou apresentação dificilmente vai te dar um bom resultado. Depois não adianta culpar o retorno, o dono do bar, o pastor, o Big Mc que você comeu no almoço, etc.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Canto Livre


Já falei aqui no site sobre postura, respiração, articulação, registros vocais e manutenção da saúde vocal, e creio que esses 5 elementos formam a base para um “canto livre”, são os pilares de um bom cantor e de uma carreira longa e prazerosa.

Podemos ver e estudar esses 5 fatores de forma separada para isolar as dificuldades e potencializar o treinamento, é o chamado “Treinamento Funcional”, ramo da pedagogia vocal que me atrai bastante por ser concreto e dar resultados, independente de estilo musical ou crença na necessidade de “talento”.

Dos 5, o controle dos registros vocais me parece o mais importante. Lembrando que esses registros nada mais são do que configurações musculares que vão determinar a produção do som, se é forte e vibrante ou suave e delicado, grave ou agudo, e as infinitas variações entre eles. É de fato, o trabalho da laringe e das pregas vocais.

Porém trabalhar apenas a laringe pode não surtir grandes efeitos, visto que os outros fatores podem influenciar, e influenciam, o trabalho das pregas vocais.

Uma articulação (rosto, língua, mandíbula, faringe, palato mole...) mole ou dura demais tencionam até travar o movimento da laringe, afetando a musculatura que está em volta dela (a musculatura extrínseca da laringe), além de prejudicar a ressonância e trabalho acústico realizado no som, causando nasalidade, som preso, áspero, dificuldade na compreensão sonora, etc.

Respiração sem controle pode não suprir as necessidades de ar ou exagerar na força que vem por baixo das pregas vocais (chamada pressão subglótica). Qualquer uma das formas vai exigir uma compensação da laringe, modificando sua “situação de trabalho”, causando estrangulamento, constrição, etc.

E por trás disso tudo vem a postura, que quando incorreta prejudica a respiração, afeta as estruturas de ombros, pescoço e todo o resto do corpo, afetando o funcionamento do todo, consequentemente, a laringe e a voz.

E lógico, não adianta você estudar tudo e não tem bons hábitos de saúde vocal, não adianta estudar, treinar e se dedicar se você tem alergia a gato e resolveu adotar um. Apesar de lindo e fofinho, se ele pode fechar suas vias respiratórias é melhor manter distância. Se você fuma, saiba que mais cedo ou mais tarde isso poderá afetar sua laringe. Se você não se hidrata... Esqueça de colocar óleo no motor do carro e depois me diga o que aconteceu.

Ainda podemos mencionar um sexto fator, nem mais e nem menos importante que os outros, e este é o lado psicológico. Cantar usa o corpo, mas quem manda no corpo é o cérebro. É ele quem precisa ser ensinado a fazer os movimentos que queremos, é ele que precisa estar atento a tudo que ocorre em nosso instrumento musical interno. É de lá que saem os comandos para tudo funcionar, e o comando não pode ser preguiçoso e não pode ser ansioso. Estudos mostram que a prática de música e canto estimula o cérebro de inúmeras formas, portanto, deixe-o estimulado. A ansiedade e pressa podem bloquear o funcionamento saudável da voz bem como nos fazer esquecer da técnica. A falta de intenção, (e atenção) nos faz abandonar a  respiração, a articulação fica menos ágil, o trabalho fino da laringe se perde por falta de tônus muscular, etc. O meio termo deve ser encontrado, um estado de alerta. Prontos porém tranquilos. Uso sempre o exemplo do corredor esperando o tiro de largada, ele não está tenso, duro, ou não conseguiria correr, mas está longe de ficar mole e sem postura de alerta.

Agora é fácil, só somar todos os pontos mencionados, trabalhar bastante, desenvolver, praticar, educar o corpo e automatizar o sistema todo. Tudo feito?

Agora sua voz está livre, deixe-a funcionar, curta o som!!!