quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Cantar com emoção - Parte 3

Última parte sobre “feeling”, hora de mostrar algumas práticas que irão ajudar bastante.

Para algumas pessoas, a capacidade de se expressar é mais natural e já faz parte de sua personalidade e de seu cotidiano, se não é seu caso, uma boa dica para desenvolver isso é: cante de frente para o espelho, cante olhando para você (ajuda muito também para ver postura e tensões no corpo) e conte a história olhando nos seus olhos, não tenha medo, é só você. Cante também imaginando o público na sua frente, pode parecer maluco, mas funciona. Esse treino ajuda também a reduzir a timidez, pois o deixará mais preparado para situações de palco.

E que tal recitar o texto antes de cantar? Declame sua história interpretando as frases, faça-o ganhar vida.

Estar preparado para as situações de palco é outro fator importante. Uma apresentação é cercada de fatores causadores de estresse, tem a tensão pelo público, a vontade de fazer o melhor, às vezes medo de errar, normalmente falta lugar para aquecer, quem não tem empresário ou produtor acaba se envolvendo com a parte burocrática do evento, o que é bem desgastante. Problemas com equipamento podem acontecer, integrantes da banda podem se atrasar, as vezes aquele "branco" com as letras e melodias das músicas, etc.. Não é fácil. Se você não está seguro e confiante, a ansiedade acaba tomando conta e todo o treino e domínio técnico pode ser esquecido, o que vai comprometer a execução das canções e a emoção desaparece.

Para isso só há um remédio, cantar. Acostume-se a cantar, cante em público, cante no karaokê, faça shows, cante na aula, grave e se ouça cantando, até um vídeo, quem sabe? E invista no seu treino técnico, só assim você saberá suas reais capacidades, e nada vai te deixar mais seguro do que saber que o que você pedir sua voz vai te dar.

Outra dica: busque boas referências, ouça bons cantores, não de um gênero apenas, ouça vários tipos de música mesmo que não seja seu preferido, você sempre pode extrair coisas boas, por pior que possa te parecer. 
Quanto mais coisas você tiver contato melhor. Leia livros, veja filmes, peças de teatro, musicais, exposições de arte, etc., enriqueça-se com cultura, não fará mal algum. Isso tudo entrará para o seu repertório e ficará guardado no seu subconsciente, e o dia que precisar estará lá.

A emoção vem de dentro da gente, das experiências que vivemos, de um fora da namorada, ou de uma conquista, uma dívida no banco, ou até de um carro comprado (Camaro Amarelo, Cross Fox, ou uma Harley Davidson...), vem do título do time de futebol, de uma derrota, da alegria do nascimento de um filho, de uma perda, de uma memória, etc. Ela está no local onde moramos, nas polícias sociais, em guerras, catástrofes naturais, nas nossas relações com as pessoas, amigos, famílias, inimigos (por que não?), está na cultura que absorvemos, nas viagens, nos locais que conhecemos, em tudo que está ao nosso redor, seja real ou ficção (experiência no cinema também vale). Viva a vida, quanto mais emoções conhecermos melhor será para expressá-las. 

Como cantar como feeling então? Tem uma fórmula matemática pra isso:
Técnica vocal + experiências + bom senso = “AEEEEEEEE, DEMAIS, LINDO(A)”, sim, no palco todo mundo é lindo, hehe.


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Cantar com emoção - Parte 2

Ainda sobre a emoção na canção...

Nosso processo de aprendizado passa por algo chamado memória muscular, essa memória muscular é algo como nosso lado subconsciente, é aquilo que estamos tão habituados a fazer que conseguimos de olhos fechados e sem pensar.
Você não pensa para erguer os braços ou para mexer as mãos. Quando você anda, não fica direcionando as pernas: “vai perna direita, agora é você esquerda, vamos lá direita, esquerda, você consegue”. Não, você simplesmente anda, seu cérebro ordena e seu corpo responde. Se quiser correr é só se condicionar a isso. O objetivo do treino de técnica vocal é esse, fazer você se acostumar a novos comportamentos musculares no seu corpo para que as notas saiam sem ter que pensar nelas, para que a respiração funcione de forma a auxiliar sua voz, para que os efeitos aconteçam quando você quiser expor algum sentimento, e não quando pensar “agora, vai drive, é com você!”, essa parte fica no treinamento, na hora em que você está desenvolvendo as habilidades, e não quando está usando-as.

O estudo do canto é baseado em criar esses hábitos positivos no lugar dos negativos que acumulamos pelas mais variadas razões, desde uma postura incorreta por causa do computador, um ombro tenso por culpa do chefe, uma mandíbula travada por causa de uma criação rígida ou um casamento em que você não possa ter voz ativa, ou mesmo por causa de um treino vocal mal feito, etc. Razões para nos travarmos não faltam em nossa sociedade.

Peraí, então um treino de canto pode me criar dificuldades pra cantar? Sim, é isso mesmo, e digo mais, é bastante comum. Infelizmente existem muitos “profissionais” que ensinam seus alunos a se limitarem, mas não por maldade, e sim por falta de conhecimento no funcionamento da voz, ou pessoas que acabam desenvolvendo vícios nocivos por si só. Mas esse assunto é para uma próxima oportunidade (mais um).

Supondo que tenha um treino vocal de qualidade, é nele que você tem que se apegar para desenvolver a técnica vocal, desenvolver e se acostumar com essas novas formas de agir e de sentir a voz e o corpo como um todo, e, isso feito, você estará pronto para usar sua expressividade e sentimento, sua voz vai fluir e isso o fará extremamente feliz, e seu público também.
Exemplos de expressão corporal
Estudos falam sobre o uso de expressões faciais, gestos corporais, visualização de imagens, e muitas outras formas de refletir o sentimento no canto. Normalmente quem dará as dicas de que tipo de emoção passar é a própria letra da música. Você não vai cantar uma música romântica com uma voz raivosa, não vai interpretar uma canção triste com voz alegre, é necessário ter bom senso para não soar estranho, caricato ou deslocado (se for cantar em um idioma que não esteja familiarizado, por favor, procure a tradução, ou ao menos saber do que se trata a canção). Pois é, além de ter o feeling, tem que ter o feeling certo na hora certa. Mas temos aí uma vantagem, na arte vale tudo, então o sentimento errado na hora certa (ou na errada, se é que tem certo e errado nisso) também é válido, cria-se uma ironia, cria-se humor, aí vai da intenção de cada interprete.

Amanhã, algumas dicas para se soltar mais e mostrar a emoção enquanto canta. 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Cantar com emoção - Parte 1

Sempre pergunto aos meus alunos qual o objetivo deles nas aulas, o que eles querem desenvolver, aprimorar, onde querem chegar. “Ser afinado”, “cantar mais agudo”, “fazer drive”, “melhorar o vibrato”, “cantar sem me machucar”, são algumas das respostas, mas qual seria o objetivo final de todo cantor?

Dean Kaelin, professor de canto autor do método conhecido como MIX, diz que o objetivo de todo cantor é ouvir “WOW, você é demais”, “canta muito”, “você é o cara” (não era o RC?), etc. e não “nossa, que afinação precisa”, “entendi com clareza tudo o que ele cantou”, “você viu só como esse cara respira bem?”. E eu devo concordar com ele, ninguém quer que seu canto transpareça um trabalho técnico e frio, ou não deveria querer.
O que todo cantor quer é ser apreciado pelo conjunto, tocar quem ouve, e isso pode ser em um show, uma ópera, um musical, um karaokê, a si mesmo cantando no chuveiro (ou toda a vizinhança). O que meus alunos procuram é cantar com emoção, ter a capacidade de transformar a música em uma mensagem que atinja o ouvinte e o comova das mais variadas formas, e é esse o tema deste post, o tal do “feeling”.

Cantar com feeling, é exatamente o que a palavra que dizer: cantar com emoção, transformar as palavras em algo maior do que o texto, e é isso que faz a diferença, é isso que faz um cantor se tornar genial ou não, essa capacidade de passar o sentimento para quem ouve.

Imagine que você vai contar uma estória infantil para um filho, um sobrinho, uma criança qualquer. Quando você a lê em voz alta, não fala as palavras de qualquer jeito, você tenta criar vozes para os personagens, dar mais ênfase em uma parte, menos em outra. Chega o lobo mal, a voz já fica mais assustadora, a vovozinha é mais doce e gentil, a menininha tem voz aguda e o lenhador tem voz de buzina de navio. Você tenta dar uma cara mais rica e mais interessante para o texto. E eu duvido que faça duas vezes da mesma maneira, sempre terá algo novo e diferente pra fazer a cada leitura, e é exatamente isso que se faz quando pensamos em interpretar uma canção, dar mais ou menos carga dramática em determinadas partes para que aquele texto ganhe vida e fique com “a nossa cara”.

O que torna um contador de histórias melhor do que outro? Primeiro sua técnica, pois não adianta ele querer criar vozes, climas, situações com a voz se ela não souber responder, o mesmo vale para um ator ou cantor, e é por isso que o treino de técnica vocal é tão importante, mais, é vital. 


Como disse no início, não queremos ser reconhecidos pelas nuances técnicas, queremos comover o público, mas a emoção não aparece se a técnica não é apurada, a emoção não surge quando não temos fôlego para uma frase, quando a nota sai desafinada, quando há quebras no nosso timbre, quando os efeitos vocais não são feitos na hora e na maneira correta, quando há tensão ou moleza no nosso aparelho fonador ou quando cansamos nossa voz a toa e desenvolvemos problemas de saúde vocal (estou devendo um texto sobre eles.Vai sair, prometo.). A técnica não é nosso objetivo final, mas é a ferramenta que vai possibilitar que o sentimento apareça de forma livre e natural.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Acústica no canto, o poder do trato vocal. Parte 2

Leia a primeira parte deste texto clicando AQUI

Emitimos um som cheio de harmônicos, e por isso minha voz é diferente da do meu vizinho e do meu cachorro e do meu liquidificador. Mas, e daí?


A cavidade oral, com os lábios, dentes, 
palato duro, palato mole e língua
E daí que nós temos algo chamado trato vocal. Aquele “módulo” que fica entre a as pregas vocais e os lábios. Um “tubo” formado pela faringe, boca, etc., e que movimentamos o tempo todo para falar e cantar. É no trato vocal que esses harmônicos são “filtrados”, aumentando o volume de uns, abafando o de outros, causando uma série de resultados acústicos diferentes.

Sustente uma vogal qualquer na mesma nota e mude a posição de cada um dos seus articuladores, e perceba como cada pequeno movimento altera a característica da vogal emitida.

Graças a essas mudanças nos harmônicos, cada posição no trato vocal modifica o tipo de som gerado, altera as vogais, as consoantes e varia também o timbre. Lembra dos textos sobre articulação?  Se não, veja as partes 1, 2 e 3.

É nessa hora no texto que entram os formantes.

Representação dos formantes em uma
análise acústica
Formantes são as ressonâncias. "Hein?"

Com a misteriosa capacidade (sim, estou sendo irônico) que nós temos de moldar o trato vocal através de abertura de boca, posição da língua, altura do palato mole, aproximação ou distanciamento da base da língua e da faringe, etc, criamos diferentes formas que privilegiam alguns harmônicos e abafam outros, essas "frequências preferidas" recebem o nome de formantes na ciência acústica. É aqui que a coisa começa a ficar interessante.

Os formantes 1 e 2 (F1 e F2) são importantíssimos para definir qual vogal estamos emitindo, seja na fala ou no canto. Quando modificamos o trato vocal nós mudamos os formantes, como resultado sonoro aparecem as vogais diferentes. Interessante, não? Os demais formantes vão determinar mais a qualidade de cada som (aqueles termos como: "brilhante", "aberto", "fechado", "claro", "escuro", "pra dentro", "na máscara", etc.)

Perceba que isso não acontece no canto somente, e nem depende de estilo musical, é um fenômeno que simplesmente acontece e foi descrito, tal qual a lei da gravidade. Importante não fazer confusões aqui.

Um ponto interessante diz respeito à clareza dos sons das vogais. Cada vogal é formada em determinados formantes, uns mais graves, outros mais agudos. Se você vai cantar uma nota muito aguda, possivelmente o formante necessário para a formação de uma ou outra vogal tenha ficado para trás (seja mais grave), e, por isso, o som que você tenta fazer nem sempre é inteligível, ou 100% preciso. Tente entender a letra de trechos muito agudos nas músicas, fica bastante complicado.

Um dos outros poderes dos formantes, que por muitas vezes é tratado de maneira quase mística (mas que é bem científico), é o tal do “formante do cantor”. 
Comecei o assunto no primeiro texto falando do solista de ópera que tem que "atravessar" a orquestra, e é assim que ele consegue isso. O “formante do cantor” é um agrupamento dos formantes 3, 4 e 5 (F3, F4 e F5), que gera um pico extraordinário em uma região que o ouvido humano é mais sensível (em torno de 2500 Hz a 3500 Hz, segundo o Dr. Phillippe Dejonckere). Esse pico pode elevar o volume do que é cantado em até 30 dB em casos extremos (Dr. Hubert Noe), e isso, é muito “barulho”. Esse formante do cantor é normalmente feito abaixando a laringe e ampliando a abertura da faringe, mas existem outras estratégias, mas jamais, JAMAIS, fazendo força ou simplesmente "apoiando mais".
A linha pontilhada mostra o som produzido pelo cantor, repare o pico de amplitude que surge próximo aos 2500 Hz, se destacando da linha mais escura, que é a orchestra. Esse é o "formante do cantor". Leia abaixo.
E o "formante do cantor" é algo exclusivo da ópera? Não, esse reforço harmônico ocorre também em gêneros da música popular, mas a intenção aqui é dar mais “brilho na voz” (harmônicos agudos) e não aumentar sua intensidade, já que em música popular nós usamos o microfone par amplificar nossa voz.

Há ainda o “formante do ator” (ou do "falante", ou do "cantor não clássico"), que aumenta o volume, obviamente, dos atores no palco do teatro. E esse não envolve abaixamento laríngeo, o que deixaria o som mais "escuro", e no teatro a clareza do texto é ponto chave. Esse mesmo formante do ator é encontrado em estilos de canto que tentar ser mais próximos da fala, como no Teatro Musical e estilos derivados da música folk.

O formante do cantor é então a única forma de se fazer ouvir através de sons muitos fortes? Segundo Donnald Miller não. Seus exames acústicos em cantores como Luciano Pavarotti e Franco Corelli não encontraram tal ajuste. Coisa de ópera então? Não, Ethel Merman, a síntese do belting, usaria a mesma estratégia dos dois, segundo Miller.

Existe ainda algo chamado “canto harmônico”, ou overtone singing, ou throat singing, que é feito em locais como a Mongólia, Sibéria e Tibet. Nesse estilo, o cantor cria uma frequência fundamental e por manipulação do trato vocal consegue “pinçar” harmônicos isolados e amplifica-los fazendo soar duas notas ao mesmo tempo. Os ouvidos ocidentais, não acostumados, estranham de início e até duvidam, mas sim, um homem é capaz de cantar duas notas ao mesmo tempo. Como? É o poder da acústica e do trato vocal, veja o vídeo. E o mais legal é que é bem simples e qualquer um pode fazer.

Viu só? Você não precisa entender de acústica para falar ou cantar, mas na próxima aula que tiver duvido que pense “Ah, nunca vou usar isso na vida”. Agora, quando seu professor de canto disser que precisa abrir mais a boca, ou menos, posicionar a língua aqui ou ali, etc. você vai entender o que ele quer com isso, mesmo que ele não entenda.

Dê mais atenção para seu trato vocal, ele precisa de agilidade e precisa saber realizar trabalhos complexos. Não adianta querer, pensar ou imaginar apenas, ele precisa de condicionamento físico para entregar o som, e moldar as formas que você desejae que sua voz necessita.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Acústica no canto, o poder do trato vocal. Parte 1

Este é o primeiro de dois textos de um tema muito interessante, complexo e repleto de mal -entendidos. Espero que tenha conseguido deixa-lo o mais leve e didático possível sem comprometer as informações. Qualquer dúvida ao final dessa série podem postar nos comentários que terei o maior prazer em responder.

Já parou pra pensar como é possível um cantor lírico solista ser ouvido mesmo com uma orquestra e um coral soando ao mesmo tempo? E aqueles locutores ou cantores que tem a voz "aveludada", como conseguem ter um timbre tão bonito? E aqueles cantores de música infantil que fazem vários tipos de vozes diferentes? Vamos ser mais básicos ainda. O que acontece pra um som de Á virar som de Ê, ou qualquer outra vogal?

Essas perguntas descrevem uma série de resultados da acústica. Lembra aquela matéria que você teve no colegial, mas que nunca ninguém deu uma utilidade pra ela? Pois aqui a acústica faz toda a diferença. Você não precisa saber exatamente de tudo para cantar, mas se seu professor de canto souber, por melhor que ele já seja, o dará mais ferramentas e formas de abordagem para ajudar você a desenvolver sua voz. Explico.
Representação da onda sonora
Primeiro vamos relembrar as frequências e os ciclos de vibração. Cada ciclo de movimento de "abre e fecha" das pregas vocais faz com que o ar, que vem dos pulmões passe e pare, passe e pare, etc., emitindo pulsos. Esses ciclos, que duram milissegundos, vão produzindo os sons. Quanto mais rápido esse ciclo (ou quanto mais ciclos por segundo) mais aguda a nota emitida. Ok, podemos chamar essa nota de frequência, e essa frequência é medida em Hertz, quanto mais hertz, mais agudo, e para cada oitava que cantamos mais aguda o número de hertz (ou de ciclos de vibração. No nosso caso, vibração das pregas vocais) dobra. Um “Lá” depois do “Dó” central (aquele à direita da chave do piano, ou que na partitura fica entre a clave de “Fá” e de “Sol”) é produzido com 440 Hz, o “Lá” uma oitava acima com 880 Hz, uma oitava abaixo do primeiro teria então? Exato, 220 Hz, e por aí vai.

Oitava: Explicando vulgarmente, é a oitava nota de uma escala de notas que não repetem os nomes (chamada diatônica), por exemplo: Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, tem 7 notas, a oitava seria o Dó seguinte. O nome se repete e a frequência dobra.
Essa frequência inicial, que queremos produzir é conhecida como frequência fundamental. Mas ela não sai sozinha.


Quem já estudou teoria musical provavelmente já ouviu falar em série harmônica. Quando emitimos uma frequência, seja na voz ou em uma guitarra, um piano, um trompete, um violino, etc., emitimos muito mais que a nota que desejamos. Junto dessa frequência fundamental, inúmeros outros harmônicos ressoam, múltiplos dessa que quisemos emitir, eles são notas que acompanham a fundamental. Ex: Cantamos uma frequência em 100Hz, os harmônicos soando junto estão em 200, 300, 400, 500 Hz, etc., formando o timbre final do som.

Vamos pensar em um piano. Digamos que você toque uma nota “Dó”, além desse “Dó” outras notas ressoaram juntas. Na série harmônica, que é responsável pelos nossos estudos de harmonia na música (acordes maiores, menores, acorde com sétima, acorde com decida terceira aumentada, etc.) os harmônicos da nota fundamental vão aparecendo como múltiplos inteiros, em oitavas, quintas, terças, etc. e formando o timbre da nota. Estudos mostram que para cada oitava acima de harmônico ressoando junto com a frequência fundamental o volume decresce em 12 dB até sumir, mas podemos manipular isso.

Ah, então os harmônicos são responsáveis por um violão soar como violão, uma voz como uma voz, um trombone como trombone, uma gaita de fole como a conhecemos, e assim por diante? Exato. O ataque também é importante, mas a discussão não é essa, hehe. Um som sem harmônicos seria aquele sonzinho chato de MIDI que tem nas trilhas sonoras de vídeo games dos anos 80. 

Clique AQUI para ver a segunda parte

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Atuação fonoaudiológica no campo da voz clínica e profissional

Desde o final de 2012 mantenho uma parceria com a fonoaudióloga Dra. Camila Loiola, e resolvi convidá-la  para falar um pouco da função do fonoaudiólogo, e de como ele pode ajudar no desenvolvimento e na carreira de cantores e demais profissionais da voz.
Um ótimo texto que ilustra a importância de um acompanhamento especializado, e mostra também as semelhanças com o trabalho do professor de canto atualizado, porém com um foco que pode ser diferente.

Fiquem com a Dra. Camila Loiola:

Dra. Camila Loiola
"O fonoaudiólogo é o profissional que trabalha com a comunicação  humana e seus distúrbios, envolvendo tanto a atuação clínica no sentido da terapia e reabilitação, quanto a assessoria com o foco voltado para o aprimoramento da comunicação. Seu trabalho envolve a voz e fala e suas interfaces com a linguagem (oral e escrita), motricidade orofacial, audição entre outras especialidades.

No campo da voz, especificamente, o fonoaudiólogo é responsável pelo atendimento clínico a indivíduos que apresentam queixas e/ou alterações vocais, que chamamos de disfonias. Em geral, o paciente passa por uma avaliação inicial em que é realizado o levantamento de toda a sua história vocal e de saúde, seus hábitos, cuidados e comportamentos vocais, com o objetivo de conhecer a dinâmica vocal desse indivíduo. Em seguida é feita a avaliação dos aspectos de postura corporal, respiração, sistema sensório motor oral (avaliação do aspecto, tônus e mobilidade dos músculos da face), avaliação perceptivo-auditiva da voz (qualidade vocal, pitch, loudness, ressonância, articulação entre outros), análise acústica e outras avaliações complementares, quando necessário. A partir dessa análise, é definida a conduta a ser realizada, em um trabalho centrado em três pilares do atendimento fonoaudiológico em voz: saúde vocal, comportamento vocal e técnicas propriamente ditas.

É importante entender que, em um processo terapêutico em voz, a realização do exercício vocal de forma isolada em nada adianta o sucesso da terapia. É preciso que haja toda uma mudança de atitude frente ao comportamento vocal, e isso envolve mudanças e/ou adaptações nos hábitos de saúde, questões corporais que podem estar associadas e um trabalho de percepção de si mesmo, para que tais mudanças sejam efetivas. Vale ressaltar que o trabalho em equipe é fundamental tanto para a conclusão do diagnóstico
Tela do software VoceVista
quanto para o acompanhamento da terapia. Portanto, é importante o paciente passar também por avaliação e acompanhamento otorrinolaringológico a fim de se investigar os aspectos anatomofisiológicos da produção vocal e, dependendo da demanda e da necessidade de cada caso, profissionais como: professores de canto, terapeutas corporais, ortodontistas, fisioterapeutas, entre outros. Tais parcerias são enriquecedoras e beneficiam tanto o fonoaudiólogo em sua atuação quanto o próprio paciente em seu desempenho no processo.

Outra vertente de atendimento na área da voz refere-se ao trabalho de assessoria. Nesse, o foco de atuação é a prevenção e promoção da saúde e o aprimoramento da voz e das competências comunicativas. Em geral, o fonoaudiólogo trabalha com um grupo específico de profissionais da voz que buscam complementar sua formação e melhorar o desempenho comunicativo. Exemplos de atuações dessa natureza são:
  • Cantores: acompanhamento durante gravações em estúdio, análise de material gravado (CD e DVD), preparação vocal, avaliações in loco, análise de palco, trabalho de ajustes vocais em diferentes gêneros musicais, programas de conservação auditiva;
  • Locutores: direção vocal nos diferentes tipos de locução, assessoria vocal em empresas de rádio, orientações em casos de adaptações vocais (vozes caricatas), construção da persona;
  • Repórteres e apresentadores: avaliações in loco (estúdio, transmissões ao vivo, gravação dos offs), análise do gesto vocal e corporal, estratégias de fala como veículo de expressão;
  • Professores: preparação vocal para o uso docente, programas de promoção de saúde e prevenção de alteração vocal, oficinas;
Além da assessoria a outros profissionais como operadores de telesserviços, empresários, diretores,  dubladores, atores e demais indivíduos que utilizam a voz como instrumento principal de trabalho.

Como já bem disse Tom Jobim, “a voz humana é o instrumento mais rico que há”. Ela marca a nossa identidade e nos coloca em contato com o outro que nos cerca. Portanto, cuidar bem dela é fundamental! É ter melhor percepção de si mesmo, é cuidar da saúde, é ter atitude... é, acima de tudo, comunicar-se bem e estabelecer boas relações pessoais e profissionais. Para isso, seja qual for a demanda ou a necessidade, você pode contar com a colaboração do fonoaudiólogo. Seja amigo da sua voz!"


Camila Miranda Loiola é fonoaudióloga clínica e assessora em Comunicação Profissional, além de cantora popular. Mestre e doutora em Fonoaudiologia na linha de Voz profissional, com ênfase em voz cantada. www.voicefirst.com.br

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Para quem quer realmente conhecer a Voz

Gostaria de começar o texto de hoje com meus votos de um ótimo ano de 2013 a todos vocês meus amigos, alunos e leitores do Estúdio de Voz. Que ele seja repleto de muitas realizações e objetivos conquistados, de muito estudo e avanço, não só no canto, mas em todas as áreas da sua vida. O artista tem que ser completo, tem que ter a técnica e o espírito em harmonia, e é isso que desejo a vocês.


E vamos inaugurar 2013!

No final de 2012 fui aceito para cursar o FIV, uma pós graduação em voz profissional e artística, e é disso que quero falar hoje.
Esse é um post feito para aqueles que querem entender e saber como e o que trabalhar na voz de maneira mais completa e eficiente. Para cantores e também professores de canto (agradeço demais o apoio de todos vocês).

Como eu sempre digo: se sua área é canto (mas serve para qualquer área), você deve se especializar nisso, deve estudar e se aprimorar constantemente, da mesma forma que médicos, engenheiros, jogadores de futebol, chefs de cozinha, bailarinos, etc. fazem. Se você é professor de canto então, tem que buscar sempre formas mais eficazes de desenvolver seus alunos, pois é pra isso que eles procuram você.

O curso em questão, uma pós graduação Lato Sensu, de Formação Integrada em Voz (FIV), mescla as áreas da saúde, ciência e voz, e tem como objetivo instrumentalizar o profissional da área, incluindo professores de canto e cantores, com técnicas e conhecimento avançado na voz profissional. Não é um método de ensinar a cantar ou nada do tipo, mas vai proporcionar ferramentas para identificar o que faz ou não sentido. Tendo isso, você saberá julgar o que é bom ou ruim para seu aluno ou sua própria técnica vocal.

O FIV, é organizado pelo CEV – Centro de Estudos da Voz, um dos institutos de ensino e pesquisa em voz mais renomados no planeta, coordenado pela Dra. Mara Behlau, unanimidade na área, e que tem um currículo extenso demais para escrever no blog, mas que você pode pesquisar AQUI.
Além dela, outros profissionais de altíssimo nível integram o corpo docente e de apoio do curso, como Glaucya Madazio, Paulo Pontes, Beth Amin, Guilherme Pecoraro, etc.

Fiquei muito feliz por ter passado no processo seletivo do curso, que é bastante concorrido, e recomendo a todos os profissionais ou interessados na área a buscarem essa especialização. Seus alunos e você agradecerão o conselho.

Busque sempre aprender e estudar, por mais experiência ou por melhor que seja, ou se ache, você não sabe de tudo, sempre existirá alguém que pode ensinar algo, não fique preso em um casulo formado por “já sei isso” e “já fiz aquilo”.

Mais informações sobre esse curso e muitos outros no site e na página do facebook do CEV.

Até a próxima!!!