sábado, 29 de junho de 2013

Mulher faz falsete?

A leitora CreepyCriminal comentou o texto sobre registros perguntando sobre o falsete feminino, e como a resposta estava ficando grande demais resolvi criar um tópico sobre o assunto.

Esse tema do falsete feminino causa muita controvérsia por uma série de questões, uma delas é a falta de consenso na nomenclatura dos registros vocais, ou seja, cada um considera falsete uma coisa diferente, e como conversar de forma única sobre conceitos distintos?
Algumas pessoas os classificam não pela ação fisiológica da voz, mas por sua sonoridade ou sensação de ressonância, mas essa é uma forma que considero muito abstrata. Para quem pensa dessa forma, se o timbre está homogêneo então o cantor está no mesmo registro, isso complica quando pegamos um vocalista mais habilidoso que consegue deixar toda sua extensão com o mesmo tipo de som.


Na voz masculina a passagem do registro modal (peito, cabeça e mix ou Mecanismo Laríngeo 1) para o elevado (falsete ou Mecanismo Laríngeo 2) é bastante nítida, e a zona de passagem é maior que nas mulheres (um estudo mostrou 5,5 semitons quando num som ascendente e 4 quando descendente), e por isso fica muito fácil de identificar quando estamos em "falsete".

Na mulher isso fica ainda mais complicado, até pela mulher já ter a voz mais aguda e por já haver uma fenda fisiológica (natural, não patológica) em muitas mulheres. Lembrando que no falsete as pregas vocais formam uma fenda fisiológica paralela (fenda fisiológica é uma separação das pregas vocais durante a produção do som que não ocorre por problemas, mas que faz parte do mecanismo. Veja no vídeo abaixo a partir de 01:12m a mudança de configuração das pregas vocais). Resumindo, podemos dizer que estão mais próximas de realizar um falsete que os homens, que normalmente não possuem essa fenda. Aqui vale uma consideração: Alguns homens possuem "laringe feminina", e vice-versa.
Outro fator importante para a dificuldade de diferenciação do som é que nelas a zona de passagem de registro é menor (1.5 subindo e 2 descendo, segundo o mesmo estudo), o que deixa mais difícil de haver uma quebra abrupta na voz de cabeça pra um falsete feminino.

Além disso, um grande problema é o nome falsete, que vem de falsa voz feminina (lembra?), mas mulher não precisa “imitar mulher” pra cantar mais agudo, hehe. Se pensar por esse lado da pra dizer que não tem falsete, certo?
Também não há um “falsear voz de homem”, mas mulheres que cantam com bastante firmeza glótica como Ana Carolina e Cassia Eller são sempre comparadas a vozes masculinizadas, daria pra chamar de falsete se você quiser, mas a pergunta é, pra que complicar? hehe

Existem autores que chamam os registros de mecanismos 0, 1, 2 e 3. Pode parecer esquisito, mas evita esse tipo de dúvida. (Veja mais sobre isso clicando AQUI)

Fisiologicamente, se considerarmos o falsete como uma produção de voz onde não há o fechamento completo das pregas vocais durante o ciclo de vibração, o falsete feminino existe, isso é mais do que comprovado por inúmeras pesquisas, mas nem sempre o termo falsete será empregado somente nesses casos, como mencionado no início deste texto, e aí mora a complexidade da questão. (Entenda esses tipos de produção de voz clicando AQUI)